20100921

Políticos apanham do Twitter

O Twitter vai ser uma presença constante nas eleições de 2010. A rede social virou moda entre os políticos. Parece que todos querem embarcar na nova onda tecnológica (no "estilo Barack Obama", eleito presidente dos Estados Unidos com a ajuda de sites como o Twitter e o YouTube). Mas a rede social não vai ter um grande peso na definição do presidente ou dos parlamentares brasileiros. Por aqui a realidade é outra: enquanto nos EUA 74% da população tem acesso à internet, 65,2% dos brasileiros acima de 10 anos nunca tiveram acesso à rede.

A distância que a população está da web reflete também nos políticos que se aventuram no Twitter. José Serra, o candidato mais popular do país no site, não tem 300 mil seguidores. Obama tem mais de 4,4 milhões de seguidores. E a maioria dos políticos brasileiros não estão preparados para sobreviver nesse novo mundo. Muitas gafes foram cometidas nos últimos meses por políticos no Twitter, mas a maior parte delas foram tropeços de discurso: frases que ficaram fora de contexto, piadas que não tiveram graça, sentidos que se perderam pelo mau uso da ferramenta. O exemplo mais recente desses casos é o de Marina Silva, que por não saber como funciona o retweet [quando um usuário reenvia a mensagem de outro], entrou em uma discussão religiosa com alguns usuários.

Com a proximidade das eleições as táticas para ganhar popularidade no Twitter estão ficando mais agressivas, o que pode causar deslizes mais graves.

Na noite de quarta-feira (7), o perfil @jorgecortereal, de Jorge Côrte Real, candidato a deputado federal em Pernambuco, apareceu de uma hora para outra na lista de perfis seguidos de mais de 30 mil pessoas. Logo os tuiteiros começaram a discutir o episódio. Alguns lançaram a suspeita de que Real, ou alguma assessoria de comunicação, teria comprado o perfil @naoehamor e trocado de nome, para ficar com seus seguidores. É possível trocar o nome de uma conta no Twitter a qualquer momento, se o novo nome não estiver em uso. Todas as mensagens da conta anterior haviam sido apagadas. Usuários estranharam uma conta nova nas suas listas, com mais de 30 mil seguidores, criada em setembro de 2009, e apenas uma mensagem enviada.

Depois que a discussão se espalhou pelo Twitter, o @jorgecortereal de 30 mil seguidores desapareceu e reapareceu com uma outra conta, mais recente, que tem menos de 100 seguidores - seu perfil original, antes da tentativa de ganhar milhares de seguidores rapidamente. No Twitter, Real escreveu: “Tive um pequeno problema com o gerenciamento do meu perfil do twitter, mas já foi normalizado. Obrigado pela compreensão.” Uma conta nova chamada @naoehamorr surgiu e afirmou: "A ideia foi nossa, do perfil naoehamor. Mas dr. Jorge pediu para retirar".

Os boatos sobre a troca de um perfil com poucos seguidores por outro mais popular surgiram, já que a venda de contas com muitos seguidores ocorre em todo o mundo entre pessoas e empresas que querem ter perfis populares. No exterior, uma conta com 100 mil seguidores [mais do que Marina Silva e um pouco menos que Dilma Rousseff] pode custar até R$ 9,5 mil. Há soluções nacionais também, como um software que replica convites de outras contas, citado em uma reportagem de junho do Correio Braziliense. Um pacote de um milhão de mensagens para usuários custaria R$ 5 mil. É fácil encontrar na internet perfis com dezenas de milhares de seguidores vendidos por menos de 500 reais.

O Twitter não vai definir a eleição presidencial. Talvez tenha mais influência para cargos menores, como os de deputados federais e estaduais - em 2012 pode ser muito importante para prefeitos e vereadores - mas é preciso prestar em atenção nos seus candidatos. Você não vai querer votar em que te engana, mesmo que na internet.

Atualização: A assessoria de comunicação de Jorge Côrte Real publicou um comunicado afirmando que não houve nenhuma compra de perfis no Twitter e nunca existiu a intenção de enganar as pessoas. "Se houve alguma falha, foi por total desconhecimento de regras de conduta do twitter", afirma o comunicado. Segundo a assessoria foi o dono do perfil @naoehamor que quis ajudar Real voluntariamente e resolveu fazer a mudança.
Fonte: Revista Época

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