20100611

Espelho, espelho meu, existe alguém mais digital do que eu?

Essa é a pergunta que os candidatos à Presidência estão fazendo. A responsabilidade é de quem vai cuidar das imagens de Dilma, Serra e Marina na internet .


Por Bruno Galo

Dilma Roussef, Marina Silva, José Serra e os homens escalados para cuidar de suas imagens digitais:
na ordem, Marcelo Branco, Caio Túlio Costa e Sérgio Caruso

Em abril, fotos da pré-candidata pelo PT, Dilma Rousseff, estreando no Twitter espalharam-se pela internet. “Bom dia, boa tarde, boa noite para quem me lê. Começo hoje minha aventura no Twitter. Quero aprender com vocês”, escreveu em sua primeira mensagem. O oponente José Serra, do PSDB, um dos primeiros a adotar a ferramenta de microblog, usa o serviço para se aproximar dos eleitores, comentando assuntos do cotidiano. “Frio hoje. Vou dormir mais cedo. Boa noite a todos”, publicou recentemente o político, famoso por ser notívago. Marina Silva, do PV, na semana passada, encontrou-se com blogueiros e twitteiros e publicou todas as fotos no Flickr, um site que permite compartilhar imagens. Por trás de todas essas ações estão o ativista Marcelo Branco, o publicitário José Caruso e o jornalista Caio Túlio Costa, respectivamente. Eles são os homens escalados para cuidar da imagem digital dos três principais candidatos a presidente. Serão eles os responsáveis por definir as estratégias da primeira eleição na qual a internet poderá ser usada para fazer campanha sem as restrições dos pleitos passados. 

Inspirados na estratégia do agora presidente dos EUA, Barack Obama – que soube usar a rede para arrecadar fundos e engajar eleitores – todos querem ganhar o coração e mente dos 67,5 milhões de brasileiros que acessam a internet, o dobro da eleição passada. “O sucesso das campanhas digitais dependerá menos das ferramentas utilizadas e mais do poder de cada candidato em mobilizar o eleitorado”, acredita Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getulio Vargas. “O alcance da campanha online não é desprezível. Mas o que for discutido na internet precisa chegar às ruas”, aponta Alessandro Lima, presidente da consultoria especializada em mídias sociais e.Life. E o que esperar de cada um dos candidatos? O perfil de seus estrategistas diz muito do que vem pela frente. 

Observe o caso de Marcelo Branco. Ele foi militante do PT na década de 80, coordenou o Fórum Internacional de Software Livre e nos últimos três anos esteve envolvido com a festa nerd Campus Party, evento que acontece em São Paulo e tem como público-alvo jovens envolvidos com tecnologia e cultura digital. “Queremos construir uma campanha com a participação das pessoas”, afirma ele. “A rede recupera o sentido de voluntariado nas campanhas.” É uma frase óbvia para um ativista como Branco. Mas é também um indicativo de como será a campanha, que tem o apoio da equipe que cuidou da estratégia digital de Obama, nos Estados Unidos. As polêmicas também já começaram. Uma delas foi o programa “Dilma Fala”, na qual a candidata respondeu a perguntas dos internautas. Criticado por ser artificial e de estilo amador, o programa sofreu com o fogo amigo do próprio PT. “Estamos aprendendo na prática. Ninguém tem expertise nisso ainda”, defendeu-se Branco. 

O publicitário Sérgio Caruso, que coordena a campanha do José Serra, sabe bem de onde vai tirar inspiração nesta eleição. Com mais de 20 anos de carreira, ele já atendeu grandes empresas como Nokia, Citroën e Unibanco. Sua estratégia segue uma linha mais empresarial, importada da sua experiência corporativa. As biografias de Serra e Dilma serão comparadas como se fossem “dois produtos”. O blog “Gente que Mente”, criado pelo PSDB, é um exemplo do que fala Caruso. O objetivo é rebater, segundo ele, as mentiras da petista. “O PT fica bravo, mas estamos jogando limpo”, diz. “O blog é nosso. Não é algo apócrifo. Trata-se de uma ação de oposição ao governo. Estamos tendo uma postura ética.” No Twitter, diz o publicitário, o objetivo é humanizar Serra, que tem mais de 200 mil seguidores, o melhor desempenho entre os principais candidatos. “Cada mídia tem seu papel. O da web é permitir a interação com os eleitores.” 

Mas para Marina Silva, a internet deve ser bem mais do que isso. Com pouco espaço na tevê e com menos recursos do que os concorrentes, a web pode ser a vitrine para alavancar a candidatura e captar recursos. Por isso mesmo, ela foi buscar no jornalista Caio Túlio Costa, um dos pioneiros da rede no Brasil ao comandar os portais UOL e iG, o apoio para dar credibilidade às suas ações. O programa eleitoral gratuito na televisão, por exemplo, vai ser usado para divulgar o site, o blog e o Twitter de Marina, em um esforço para levar a discussão além dos meios tradicionais. Difícil saber qual a melhor estratégia. Eis uma questão para o espelho mágico dos desenhos. Afinal, quem é o candidato mais digital?

 Fonte: Istoé Dinheiro

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