20100505

Internet é mais eficiente para organizar campanha do que para ganhar votos.

Os três candidatos que lideram a corrida presidencial têm feito tudo que podem para aparecer na internet, mas os resultados obtidos até agora indicam que eles têm encontrado dificuldades para arregimentar na rede um número significativo de simpatizantes com disposição para trabalhar por eles na campanha.Mais de 220 mil pessoas se inscreveram para ler o que o tucano José Serra escreve às madrugadas no Twitter, um serviço que permite a distribuição de mensagens curtas a redes de seguidores. Mas apenas 2 mil pessoas se interessaram até agora em participar de uma rede de militantes voluntários que o PSDB começou a articular com ajuda do serviço.
A petista Dilma Rousseff estreou na rede há um mês fazendo barulho. Contratou especialistas que atuaram na campanha do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, entrou nos principais sites de relacionamento pessoal e deu uma entrevista ao vivo na internet. Sua página no Twitter atraiu a curiosidade de apenas 47 mil pessoas até agora.

Na campanha presidencial americana de 2008, Obama usou as redes sociais e várias tecnologias disponíveis na internet para recrutar milhões de eleitores que trabalharam de graça para ele. Obama arrecadou na internet US$ 235 milhões em contribuições de pequeno valor individual, um terço de tudo que recebeu.

Os estrategistas que assessoram os partidos brasileiros nessa área acham improvável que um fenômeno semelhante se repita no Brasil. Grande parte do eleitorado do país não tem acesso à internet e só uma pequena fração vai à rede fazer política ou procurar informações sobre o assunto.

Cerca de 65 milhões de brasileiros têm acesso à internet, o equivalente a metade do eleitorado. Mas apenas 5% dos eleitores apontaram a internet como uma fonte de informação importante para definição do voto nas eleições municipais de São Paulo em 2008, segundo o Ibope. Mesmo entre eleitores com instrução superior, apenas 12% indicaram a rede como um fator relevante.

“A internet reduz os custos da participação política, porque ninguém mais precisa ir ao comitê do candidato para manifestar seu apoio”, diz Marcelo Coutinho, um especialista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Ela poderá ser útil para organizar os militantes, mas dificilmente ajudará os partidos a ganhar votos.”

Os políticos em geral só têm contato na rede com eleitores que já gostam deles. Coutinho e Vladimir Safatle, da Universidade de São Paulo (USP), estudaram o comportamento de comunidades organizadas no site de relacionamento pessoal Orkut para apoiar candidatos a prefeito nas últimas eleições em São Paulo e concluíram que sua atuação só serviu para reforçar convicções que seus integrantes já tinham.

Nos EUA, os partidos políticos usam bases de dados comerciais para cruzar informações de todo tipo e atingir os segmentos do eleitorado mais relevantes para suas estratégias. “Não temos no Brasil uma estrutura parecida e as restrições da legislação impedem que algo assim seja feito aqui”, diz o consultor Caio Túlio Costa, que assessora a campanha da candidata do PV, Marina Silva.

O PT começou em abril a fazer um cadastro dos seus militantes na internet, para montar uma base de dados para a campanha deste ano. O partido acredita ter 200 mil filiados conectados à rede, mas ninguém sabe ao certo. O número de petistas que participou do cadastro é mantido em segredo pela agência de comunicação contratada para fazer a campanha de Dilma na internet.

Os especialistas também duvidam que os partidos consigam arrecadar muito dinheiro na internet, porque os eleitores brasileiros não têm o costume de contribuir financeiramente com os políticos, ao contrário do que ocorre nos EUA. O PV, único partido brasileiro que hoje pede doações na internet, arrecadou R$ 203 mil entre janeiro e março.

Mas nenhum candidato ignora a força da internet como meio de comunicação. Serra estreou no Twitter há um ano e usa o serviço para polir a imagem e dialogar com seguidores. “Ele aprendeu ali a revelar traços da sua personalidade que o público desconhecia”, diz o publicitário Sérgio Caruso, que assessora o PSDB.

Em abril, a Rede Globo de televisão tirou do ar um anúncio institucional depois que os petistas acusaram a emissora de usá-lo para fazer propaganda disfarçada de Serra. A decisão foi tomada horas depois que um dos responsáveis pela campanha de Dilma na internet, Marcelo Branco, começou a espalhar na rede mensagens com críticas à Rede Globo.

Há uma semana, os petistas tiveram que explicar o uso de uma foto da atriz Norma Bengell para ilustrar a biografia de Dilma em seu site, depois que os tucanos disseminaram na rede uma nota de jornal sobre o assunto que pouca gente lera. Incidentes desse tipo têm pouca importância agora, mas podem fazer diferença na reta final da campanha.
Fonte: Valor Online

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