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Não perca a cabeça ao 'tuitar' no trabalho

Há pouco mais de uma semana, o meia-atacante Ryan Babel, do Liverpool, usou o Twitter para expressar insatisfação com o fato de ter ficado de fora de uma partida, por decisão do técnico do time. A direção do clube inglês aplicou uma multa ao atleta, equivalente a 173.000 reais, porque entendeu que ele tornou público um assunto que deveria ser resolvido internamente. O episódio ilustra um desafio crescente da vida de milhões de profissionais que utilizam o Twitter, em particular, e as redes sociais, em geral: como aproveitar os benefícios desses ambientes virtuais com prudência. Muita gente mistura vida pessoal com o trabalho e divulga informações que deveriam continuar sob sigilo corporativo. Acaba, assim, arriscando a carreira. Confira dicas do que se deve ou não postar, segundo especialistas.

Para a professora de ética Maria Cecília Coutinho de Arruda, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as opiniões divulgadas no Twitter, blogs e outras redes não devem ultrapassar o "limite do bom senso". "Falar mal de algum colega de trabalho ou superior hierárquico e expor defeitos ou erros de terceiros são condutas antiéticas, que não devem ser seguidas por ninguém", afirma.

Um dos erros mais comuns, de acordo com a professora, é a divulgação de informações consideradas confidenciais. "Muitas vezes, um simples comentário na internet sobre uma negociação que está sendo encaminhada, a apuração de um processo que está sendo feito, ou mesmo sobre o lançamento de algum produto, pode prejudicar a empresa."



Outros "descuidos" são facilmente passíveis de punição. É o caso de textos em que há clara ofensa e até ameaça a chefes e colegas (veja reproduções reais retiradas do Twitter nesta página). As mensagens desse tipo podem trazer implicações trabalhista, civil e penal, explica o advogado Estevão Mallet, da Mallet Advogados Associados. "Se o conteúdo de posts ocorre no âmbito da relação de emprego e diz respeito a colega ou chefe de trabalho, é caso de demissão por justa causa", diz o advogado. Mallet lembra ainda que, se a mensagem contiver algum teor de calúnia, difamação ou injúria, o ofendido pode entrar na Justiça com pedido de indenização.

Para evitar conflitos, algumas empresas têm adotado códigos de ética que restringem o uso de blogs e redes sociais durante o expediente. Outra tática é orientar seus colaboradores. Em setembro do ano passado, postagens de atores, atrizes, diretores e jornalistas da TV Globo fizeram com que a emissora proibisse comentários acerca de temas e informações relacionados às atividades da empresa em blogs, Twitter e outras redes sociais. A alegação: a medida pretendia proteger os conteúdos do canal "da exploração indevida por terceiros, assim como preservar seus princípios e valores".

"É difícil monitorar o uso do Twitter e de outras redes sociais dentro da empresa porque atualmente boa parte do que é postado é feito a partir dos celulares pessoais”, diz Leyla Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional). As empresas de grande porte são as mais preocupadas em orientar seus profissionais sobre o modo pelo qual se expressam.

"O Twitter não é uma agenda pessoal. É uma manifestação do ponto de vista das pessoas que compartilham com outras o seu expertise", defende Leyla. "Mas acabou virando o estado da arte de 'como estou' e, dependendo desse 'como estou', o funcionário pode colocar em vulnerabilidade o ambiente organizacional", conclui.

O conteúdo do que se posta nas redes sociais é tão importante que as empresas já estão de olho nele. Mais do que isso: elas levam em consideração o que candidatos a uma vaga colocam no ar antes de se decidir pelo profissional A ou B. "O profissional deve lembrar que está sempre assumindo a responsabilidade pelos seus atos quando posta algum comentário na rede e essa mesma postura pode ser julgada pela empresa que está contratando", diz Leyla.

Veja | Luiz De França

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