20110104

Mais rapidez e adesão de novos usuários dão o tom do futuro da internet

Já uma nova bolha e a escassez de endereços são os desafios da rede
Ataide de Almeida Jr.

O sistema de troca de informações utilizado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e, posteriormente, por universidades norte-americanas evoluiu e está presente na maior parte dos lares pelo mundo. De acordo com dados do serviço Internet World Stats, quase 2 bilhões de pessoas estão conectadas na rede, com um crescimento de 445% em relação ao ano 2000. Nesse contexto, o Brasil subiu para oitavo lugar no uso da internet. De acordo com o relatório Estado da internet divulgado pela consultoria Akamai Exceda, o país registrou 12 milhões de acessos no segundo trimestre deste ano.


Maressa Omena lembra que os bate-papos
foram a sensação na década de 1990

Além do aumento do número de usuários, a rede também acelerou no quesito velocidade. Na década de 1990, navegar a 144Kbps — com prioridade nos fins de semana ou depois da meia-noite para que a conta de telefone não viesse tão alta — era o máximo que os usuários conseguiam. A internauta Maressa Omena, 27 anos, viveu essa época. Em 1998, teve o primeiro contato com a rede na casa de uma amiga. “Era uma meganovidade. Achava mais impressionante os primeiros portais, que traziam revistas, horóscopo, notícias. Mas o que mais fazia era entrar nos bate-papos”, recorda.

“Comparando a velocidade com hoje, eu teria um AVC na frente do computador. Tenho banda larga, que é mais rápida, e ainda assim me irrito”, explica Maressa. O futuro promete ainda mais rapidez. Os participantes da Campus Party deste ano experimentaram 10Gbps de velocidade e já está em teste o uso dos 100Gbps, o que equivalente a transferência de mil DVDs de 4GB em menos de uma hora.

A evolução da internet também atingiu os sites. A chegada dos serviços de hospedagem gratuita, como o Geocities (da Yahoo!), fez com que a internet pulasse de 19 mil sites em 1995 para 603 mil no ano posterior, de acordo com a empresa de análises Netcraft. O design da maior parte dessas páginas era uma festa multicolorida repleta de gifs animados e textos com fontes enormes. “A evolução era voltada para conteúdos estáticos. Havia páginas pré-definidas, porém geradas em função das requisições dos usuários. Eram voltados a portais de informação”, explica Claudio Marinho, CEO da Exceda, empresa especializada em soluções de distribuição de conteúdo para internet e aceleração de aplicações na web.

Nessa mesma época, despontava no mercado o Flash. Com a possibilidade de fazer animações, utilizando como base a interpolação de movimento e forma, a ferramenta da Macromedia — adquirida pela Adobe em 2005 — caiu no gosto dos sites. Mas o software amado pelos webdesigners encontrou um ferrenho adversário, Steve Jobs. De acordo com o CEO da empresa, o Flash é proibido nos aparelhos da marca, pois não é uma plataforma aberta, além de consumir rapidamente a carga da bateria de dispositivos móveis. “A grande mudança que ocorreu nos últimos anos foi a dinamicidade do conteúdo”, afirma Marinho.

A solução para esse impasse surgiu em 2004, com uma nova versão do popular HTML, o HTML5, conhecido como o futuro da criação de páginas. Esse código de programação, que ainda está em desenvolvimento, adiciona novas funções ao HTML e melhorar a inclusão e a manipulação de multimídia e conteúdo gráfico na web, sem recorrer a plugins, como o Flash.

Quem tenta se ajustar a essa sucessão de códigos de programação são os navegadores. Desde o primeiro browser até a mais recente versão do Internet Explorer, a briga é para conseguir ser mais rápido e englobar todas as linguagens. Quem saiu na frente foi o Google Chrome, que trouxe suporte ao HTML5 e garante ser pelo menos 10 vezes mais rápido que os concorrentes. De acordo com especialistas, os próximos anos para os browsers estarão baseados na computação nas nuvens, o que vai permitir um aproveitamento maior dos recursos disponíveis na rede.

Futuro perigoso

Nesse período de 15 anos, a rede ainda passou por muitos altos e baixos. O interesse de investir na internet, aliado às baixas taxas de juros do mercado norte-americano, fez com que uma verdadeira bolha se formasse no setor. Ao longo de 1999 e no começo de 2000, o banco central dos Estados Unidos elevou as taxas de juros, e os índices da bolsa de valores Nasdaq caíram 4% apenas no primeiro dia, chegando a perdas de 75%.

Uma situação como a do fim da década de 1990 não está descartada para o futuro da rede. Especialistas afirmam que uma nova bolha pode estar se formando por causa das redes sociais, dos jogos sociais e dos sites de compras coletivas.“Quando se acompanha a evolução da valorização das empresas nas bolsas, elas estão mais baseadas em potencial futuro, alavancadas em modelos de negócios que ainda não se comprovaram. Isso pode realmente acontecer”, afirma Marinho.

Além desse perigo, a internet ainda tem que lidar com a escassez de endereços IP para conectar equipamentos à rede. De acordo com a Internet Assigned Numbers Autority (IANA), entidade que controla os endereços IP, até fevereiro do ano que vem, o estoque deve chegar ao fim. A solução está na nova versão do IP — que está pronta há 12 anos — e que aumenta para 79 trilhões de trilhões de vezes o espaço para novos endereços. No entanto, a nova versão só começou a ser colocada em prática agora, por conta dos investimentos que devem ser feitos pelos provedores.

Ascensão e queda

» Um dos fenômenos que ajudaram a proliferar a internet foram as lan houses. Ao oferecer acesso por hora e mais barato, as casas ficavam repletas de usuários que precisavam da internet para fazer pesquisas, trabalhos ou apenas mandar um e-mail. Os jogos em rede também dominavam os locais e deixavam os pais preocupados. A primeira rede de lan houses no Brasil foi fundada em 1998. A Monkey chegou a ter 60 lojas espalhadas pelo país. Em abril deste ano, a última unidade foi fechada. A facilidade para compra de computadores e a popularização dos preços de acesso à internet foram os responsáveis pelo fechamento em série dessas casas. As lan houses ainda ganharam uma sobrevida nas periferias.
 
Entrevista » Demi Getschko, diretor-presidente do
Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR


Como foi o surgimento da internet no Brasil?

O tema que levou ao surgimento da internet no Brasil foi a conexão do país às redes internacionais acadêmicas. Quem ia estudar fora encontrava ferramentas como correio eletrônico e, quando voltava, não via isso aqui. Daí, veio uma pressão no fim dos anos 1980 para haver internet, de modo que a academia brasileira pudesse manter contato com seus pares lá fora.

Nesse tempo, a internet começava a ganhar espaço nos Estados Unidos, pois tinha ferramentas mais poderosas, como a que permitia usar uma máquina remotamente. No fim de 1992, surgiram a web e a AOL. Ficou claro que a comunidade como um todo iria acabar entrando na rede. Primeiro, achamos que ela era acadêmica. Depois, com a entrada em massa de usuários, a internet iria rapidamente englobar o usuário final e também seria uma forma de negócio com o pessoal de rede.

Qual o principal problema no começo da internet no Brasil?

Várias eventuais questões que poderiam surgir no Brasil acabaram não acontecendo. O que poderia ser complicado, por exemplo, é que as redes eram complexas e que o usuário precisava saber inglês. Por sorte, os provedores nacionais começaram a prosperar entre empresas de mídia. Não demoramos a ter conteúdo acessível em português. Não era preciso entrar no site do New York Times para ter acesso a notícias do Brasil, pois já dava para ler um jornal brasileiro.

Nós temos ainda dificuldades por causa do tamanho do território. Fibra ótica é solução por um bom período, pois trata-se de um meio barato e bastante fácil de passar dados, não tem interferência eletromagnética. O problema é como fazer isso chegar a lugares remotos.

Qual foi o acontecimento mais marcante durante esses anos?

O mais marcante foi uma mudança geral de paradigma em todas as áreas. A rede não é um substituto do telefone nem do jornal. A internet trouxe a ideia de colaboração. O software livre foi feito assim, programas utilitários são feitos assim. Essa mentalidade de colaboração, que a internet trouxe de volta, acho muito positiva. Claro, abre espaço para fraudes. Mesmo assim, é algo mais positivo do que negativo.

Fonte: Correio Braziliense

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