20110117

Como os políticos destroem o planeta

Por Rafael Rodrigues

“Como os políticos destroem o planeta”. Deveria ser esse o título do livro “Como os ricos destroem o planeta” (Globo, 2010, R$ 29,90), do jornalista francês Hervé Kempf. Haja vista o que está acontecendo no estado do Rio de Janeiro em virtude das fortes chuvas nos últimos dias.

Neste mundo há pessoas dispostas a tudo, inclusive a morar em áreas de risco. Mas tenho absoluta certeza de que a maioria das pessoas que mora nessas áreas faz isso por não tem outra saída. Os governos, ao não impedirem isso, ao não fiscalizaram isso, ao fazerem “vista grossa” para isso, são culpados, sim, pelas mortes advindas de desabamentos/deslizamentos.

Culpados são, também, os políticos corruptos. Imaginem quantas casas, quantas ações preventivas poderiam ser feitas com o dinheiro que é desviado para contas em paraísos fiscais. Imaginem quantas pessoas seriam beneficiadas se os políticos se preocupassem verdadeiramente em fazer boas administrações e melhorar a vida das pessoas.

Chuvas muito fortes podem causar – e geralmente causam – mortes e prejuízos, é verdade. Mas os números poderiam ser outros caso medidas preventivas fossem tomadas, caso a maioria dos políticos não fosse negligente. A contagem de mortos na região serrana do Rio de Janeiro não para, e não ficarei surpreso se, ao fim de tudo, o número passar de 700. Até o momento, segundo informações do G1, são 630.

As já de certa forma frequentes tragédias climáticas que assolam não apenas o Brasil, mas todo o mundo, devem começar a ser levadas a sério não só pelas autoridades, mas também por todo ser humano. Não no sentido apenas de cobrar dos políticos, votar melhor ou fazer manifestações, mas também de ser ecologicamente correto: jogar lixo na rua, por exemplo, é um péssimo hábito. E estão incluídos em “lixo” o chiclete que você masca e cospe no passeio, a bituca de cigarro que você joga no chão e apaga com o pé, entre outras coisas. Quando chove, muito desse lixo impede que a água escoe de maneira correta, e isso pode resultar em alagamentos.

Quem defende o meio-ambiente é visto como “chato”, “certinho” etc. Mas a nossa situação não é nada animadora. Muito se fala em “proteger o planeta”, mas o nosso planeta já passou por poucas e boas – lembram do meteoro que acabou com os dinossauros? Pois é, foi só uma cosquinha na Terra. A VIDA acabou, mas o planeta, não. NÓS é que vamos sucumbir ao nosso modo de vida frenético e despreocupado com o meio-ambiente. A Terra, não.

Vários e vários livros já foram lançados sobre o tema. Al Gore, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, vem falando sobre isso há tempos. Até o Leonardo DiCaprio participou de um documentário sobre o assunto. Já falei disso por aqui.

O livro de Hervé Kempf, que estou lendo e posso dizer que é muito interessante, é mais um grito, entre tantos outros berros, a favor do planeta. Apesar de concordar com ele em muita coisa – ao menos até onde li -, discordo do título do livro, que me parece ter sido escolhido apenas para polemizar. Da mesma forma que ele afirma que os ricos destroem o planeta, poderia afirmar que a culpa é dos pobres – a alta taxa de natalidade nas classes mais baixas da sociedade é preocupante. Quanto mais gente no planeta, pior. Como diz o título de um outro livro, este do premiado e respeitadíssimo jornalista norte-americano Thomas L. Friedman, nosso planeta é “Quente, plano e lotado”.

É por isso que certas atitudes que podem parecer drásticas ou até mesmo desumanas precisam ser tomadas. Vamos a uma que pode desagradar a alguém mais sensível: esterilizar homens e mulheres que moram em comunidades carentes. Seria uma saída temporária, porque o correto mesmo é educar sexualmente as pessoas, fazê-las utilizar preservativos. Além de distribuir melhor a renda e melhorar a vida de todos. Essa última frase pode soar utópica, ingênua ou algo do tipo, mas é o correto a fazer. O abismo que separa os mais ricos dos miseráveis não pode continuar sendo expandido.

Outra atitude – menos drástica – que poderia ser tomada é obrigar escolas e universidades públicas e particulares a promoverem a coleta seletiva e a reciclagem do lixo. Fazendo-se, claro, uma campanha maciça visando a divulgação do projeto e a conscientização da sociedade.

Para terminar o post, um trecho do livro de Kempf que ilustra bem o pensamento do autor:

“(…) o modo de vida das classes ricas as impede de sentir o que ocorre ao seu redor. Nos países desenvolvidos, a maior parte da população vive na cidade, afastada do meio ambiente onde começam a se manifestar as fissuras da biosfera. Além disso, encontra-se amplamente protegida dessas fissuras pelas estruturas de gestão coletiva criadas no passado e que conseguem amortizar os choques (inundações, secas, sismos…), quando estes não são violentos demais. O homem ocidental médio passa a maior parte de sua existência em locais fechados, indo do carro ao escritório com ar-condicionado, abastecendo-se em supermercados sem janelas, deixando os filhos na escola de automóvel, distraindo-se em casa diante da televisão ou do computador etc. As classes dirigentes, que formam a opinião pública, encontram-se mais afastadas ainda do ambiente social e ecológico: só se deslocam de carro, moram em lugares climatizados, movimentam-se em circuitos de transporte – aeroportos, bairros comerciais, zonas residenciais – que os mantêm ao abrigo do contato com a sociedade. Evidentemente, tendem a minimizar os problemas dos quais têm uma imagem abstrata.”

Fonte: Revista Bravo


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