20101222

Análise: A Rede Social


Wayner Tristão


O fenômeno das redes sociais virtuais é abordado no âmago da página de maior sucesso até hoje: todo o processo de criação e disputa do site Facebook é o ponto de partida de algo muito maior. A Rede Social é o novo filme das férias estudantis. Mark Zuckerberg é um nerd estudante de Harvard e tem um problema com sua anti-sociabilidade. Para compensar seu fracasso com as garotas na vida real, propõe uma pagina de relações sociais que vai mudar o modo de navegação na internet.

Num tribunal estéril de Harvard, três alunos tentam abocanhar os louros da famosa criação que rende milhões por ano. Dois irmãos gêmeos aristocratas que supostamente tem uma idéia fundacional de uma rede social (como se não existisse outras tantas) e o co-fundador do The Facebook que foi traído por seu melhor amigo. No meio de uma cansativa - não só para os personagens em questão, mas para todo o público - audiência, através de lembranças somos apresentados aos primórdios do segundo site mais acessado da atualidade.
Se o fundador do Facebook tem problemas de sociabilidade porque criar no mundo inteiro a mesma paranóia sociopata? No filme vemos um grupo de estudantes hedonistas partilhando de suas ambições: sexo, dinheiro e fama. Automaticamente se cria uma linha de ligação: o poder de aprisionamento do cinema estadunidense está baseado na quantidade de dinheiro que alguém pode desejar e ter, na estética que está vinculada à idade para usufruí-la e na quantidade de sexo que se exibe. Diante destes novos valores, nada surpreende que o modo de pensar também se altere, e surja uma lista Mindset que propõe novos reconhecimentos para personagens ilustres.

O pensador Slavoy Zizek utiliza um termo interessante para definir essa nova alienação social: interpassividade. Através dela podemos ausentar-nos de qualquer atitude, uma vez que estamos conectados com a ação ou inércia do outro e isso nos exime de tomar qualquer atitude. O que a televisão abordava nos anos 70 e que causou certo furor da escola de Frankfurt a acusar de alienação é retomado hoje em dia pela internet que apropria de várias horas do cotidiano para propor uma “interatividade” mediada na qual o jogador (como se o mundo virtual fosse nada mais um game) tem algumas possibilidades de ação virtual. Sem que isso suplante uma nova realidade, mas deixa-se a sensação de uma mudança na interface individual do computador pessoal.

O filme como tal peca no excesso de cenas de tribunal e nas tentativas de aproximar o espectador de uma linguagem mais complexa de programação informática. Cansa, mas por outro lado o frescor da juventude fornece excitação para seguir até o fim perseguindo sonhos clichês da sociedade atual.

A direção de David Fincher ficou aquém de suas obras mais famosas (Se7en, 1995; Clube da Luta, 1999; entre outras), nas quais a mão do diretor sempre aponta para uma novidade técnica, utilizando semiologias para definir novos conceitos. Aqui busca contar uma história, e se aferra às qualidades de cada personagem, criando um filme menor, sem pretensões.

Uma propaganda a mais para o site que não acrescenta nada ao cinema. Se fosse um vídeo do YouTube ainda poderia usar a metalinguagem da interface, mas o cinema ainda dá pequenos passos na internet.

Serviço

A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010, 121 minutos, 14 anos)

Fonte: Século Diário

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