20100825

O debate pela internet

O primeiro debate presidencial transmitido pela internet, organizado pela Folha de S. Paulo e pelo UOL, bateu recordes de audiência, virou um dos assuntos mais comentados no twitter e trouxe inovações importantes, como as perguntas feitas pelos internautas (ótimas, por sinal).

Mas, como todos os outros debates anteriormente transmitidos pela TV, deixou muito a desejar com relação ao objetivo da exposição das diferenças de ideias e propostas dos candidatos - sempre alardeado como o primeiro e principal objetivo desse tipo de confronto, na voz de seus promotores, que, nessas ocasiões, gostam de encher o peito e falar em defesa do aprofundamento da democracia, pluralidade de opiniões, etc, etc.

Quem acompanhou o debate de ontem viu o mesmo desfile de sempre de discursos rasos, superficiais e atulhados de números enganosos sobre questões que passearam – sempre muito rapidamente e sem qualquer profundidade – pelas reformas tributária e política, o uso de incentivos fiscais para impulsionar a economia, a política de saneamento, a legalização do aborto, entre outros assuntos, todos muito complexos.

Tudo concentrado em duas horas, com falas, réplicas e tréplicas de, no máximo, dois minutos. Isso significa que não há chance de qualquer candidato aprofundar-se, revelar-se ou expor-se , um pouquinho que seja, em qualquer assunto. Quem procura mais densidade sai muitas vezes desses debates com uma sensação de que eles não serviram para nada.

Em geral, culpa-se a crescente influência dos marqueteiros nas campanhas pela esterilização dos debates e pela infinidade de regras que acabam engessando o comportamento dos candidatos . Acho que isso é verdade, mas desconfio que isso também não explica tudo. Quem viu os debates das últimas campanhas presidenciais americanas – entre Barack Obama e John McCain, George W. Bush e John Kerry ou George W. Bush e Al Gore – sabe que, nos EUA, os candidatos se expõem muito mais nesses confrontos. E lá é a pátria por excelência do marketing eleitoral e político.

Orjan Olsen, um dos maiores estudiosos brasileiros de campanhas eleitorais, costuma dizer que não vai dar para levar a sério nenhum debate político no Brasil, enquanto eles continuarem a ser transmitidos fora do horário nobre de audiência, com intervalos comerciais no meio e com assessores cochichando nos ouvidos dos candidatos durante esses intervalos.

Acho que ele tem razão. Ontem, o primeiro debate presidencial pela internet reproduziu o mesmo formato da TV, com blocos e intervalos no meio. Alguém pode explicar a razão se o objetivo do debate era o “aprofundamento das ideias”, como alegaram seus promotores? Se a internet é o terreno fértil da inovação, o primeiro debate presidencial no Brasil pela web não deveria também ter um formato mais inovador?
(Guilherme Evelin)
Fonte: Revista Época

Nenhum comentário:

Postar um comentário