20100806

A internet e as eleições

As campanhas das eleições presidenciais de 2010 estão sendo marcadas por algumas especificidades, destacando-se as seguintes:

01.forte polarização entre candidatos;

02.o presidente Lula como um de seus principais protagonistas;

03.a presença da Internet como um dos mais importantes meios de campanha.

Com o crescimento do número de pessoas que tem acesso ao computador, é inevitável supor que a Internet deverá ser um fator diferencial nesta campanha, principalmente se tomarmos como horizonte a campanha de Barack Obama à Casa Branca e a popularização tipicamente brasileira das redes sociais, como Twitter, Facebook, Orkut e blogs de todos os gêneros.

Mas a largada desta campanha se demonstra, até aqui, bastante estéril e imatura. Uma análise feita durante um período de dois meses nos possibilitou auferir, por exemplo, a quantidade e a qualidade das citações a determinadas marcas e nomes, no caso, os candidatos nas redes sociais. Já foi possível constatar a falta de qualificação do debate e dos conteúdos políticos e os ataques gratuitos que vicejam na web.

Parte deste cenário desanimador pode, sim, ser imputado aos próprios candidatos que, se não exortam seus eleitores a esta batalha cibernética insana, também não inibem este comportamento. Os comandos estratégicos das campanhas, afinal de contas, são responsáveis pela qualidade ou a falta dela no debate político-eleitoral.

Há, por trás disto tudo, uma estratégia caótica de guerra em curso, na qual os dois principais candidatos parecem se valer do que no mundo da internet é chamado de "missionários digitais". Este termo, que foi criado para designar os profissionais que dispõem de tempo para promover as empresas na web e que é um bom exemplo de estratégia digital nos EUA, desvirtuou-se por aqui. Nesta lógica, é possível ver militantes na Internet trabalhando para convencer indecisos, acusando adversários e rebatendo críticas no pior exemplo da desqualificação política.

As etiquetas básicas das mídias sociais são na maioria das vezes esquecidas, e um debate de surdos flui surpreendentemente. Parece não se perceber que a Internet é um instrumento singular e poderoso de mediação de conteúdos e que a eficácia de uma campanha depende da combinação da potência do meio com a qualidade do conteúdo.

Um olhar mais próximo da blogosfera mostra que boa parte de seus influenciadores possui algum tipo de ligação com a grande imprensa ou são celebridades. A transmissão das propostas de governo dos principais candidatos está ainda confusa, e isso atrapalha vínculo entre a comunidade web e a qualificação do debate.

As estratégias adotadas nas redes sociais comprovam a percepção de que os presidenciáveis ou os responsáveis por suas campanhas não enxergaram ainda a necessidade de responder a algumas perguntas básicas. Onde meu eleitor está? Quem ele influencia? Por quem é influenciado? Como ele usa as tecnologias do ponto de vista da política? Ele apenas assiste a conteúdos, compartilha com os outros, comenta, cria ou modera comunidades? Que tipo de ações específicas deveriam ser usadas para cada grupo? Como responder a acusações infundadas? Como propagar minhas ideias de forma eficiente e sintética?

Um breve comparativo entre as "tags" "José Serra", "Dilma Rousseff" e "Marina Silva" na blogosfera, num período de 30 dias (até 14 de julho), mostra que o primeiro foi responsável por 44.5% das menções, a segunda, por 39.33% e "Marina Silva" por 16.20%. No dia 30 de junho, o termo "José Serra" alcançou mais de 3.000 menções no Twitter. O anúncio do vice Índio da Costa foi bastante responsável por esse buzz. Já a comparação entre as expressões "José Serra", "Dilma Rousseff" e "Marina Silva" na twittosfera, num período de 30 dias, (também até 14 de julho), o primeiro é responsável por 46.4% das menções, a segunda, por 21.9%, e o termo "Marina Silva", por 31.8%, com 27.509, 12.984, 18.854, respectivamente. Um pouco menos de 1/4 das citações sobre Dilma Rouseff no Twitter são relacionadas ao presidente Lula.

Além dos EUA, mais recentemente, Inglaterra e Colômbia vivenciaram intensa campanha política pela Internet. Nestes países foi possível verificar que, muitas vezes, a Internet pautou o debate transbordando a discussão para bares, escolas e casas, algo que até agora não vem ocorrendo no Brasil. Parece que será mais bem-sucedida a campanha que souber escrever este roteiro e quem apostar principalmente nos jovens, que são os mais conectados.

Os jovens mais escolarizados são grandes influenciadores na sociedade. Eles têm na rede mundial uma fonte inesgotável de pesquisa e informação e, nesta eleição, este processo não será diferente. Indiretamente, a internet se tornará um veículo de comunicação política para pais, familiares, colegas de classe, amigos, entre outros. A dica é seguir o comportamento destes jovens em vez de seguir a tecnologia de forma obstinada e sem critérios. Os jovens se importam com o que pessoas da mesma idade e comunidade pensam, e o bom debate político terá mais espaço entre eles do que com qualquer outro público internauta.

Como nenhuma outra, esta eleição tem um caráter de experimentação devido à popularização da internet nos últimos anos. Erros serão normais, mas o inadmissível será a perda do pudor, das boas maneiras e da inteligência. Talvez a maior contribuição deste fenômeno seja a inevitável introdução da escuta estratégica do eleitorado, que, com o advento da web social, passou a fornecer pistas e informações vitais na condução de uma campanha e de projetos políticos. Mudanças de rota, coisa que antes levaria dias para acontecer, a internet levará segundos para mostrar a necessidade da adoção de táticas diversas e eficazes. Perderá quem não perceber que o online também constitui o real. Até mesmo na política.
Fonte: iMasters

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