20100708

A polêmica da internet rápida

Por Andreas Müller

Lançado em maio pelo governo federal, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) está apenas no começo – ainda longe, portanto, de alcançar os resultados almejados. Mesmo assim, já há quem veja problemas na iniciativa que visa a triplicar o acesso a banda larga no país até 2014 dos atuais 11,9 milhões para cerca de 40 milhões de domicílios. Uma das ressalvas diz respeito às ambições do plano, pequenas demais se comparadas à realidade dos países desenvolvidos.

Por exemplo: a meta do Ministério das Comunicações é levar conexões de pelo menos 1 Mbps a todos os municípios brasileiros. “Poderia ser mais. Hoje, todos os países estão buscando universalizar a banda larga de 100 Mbps. Mas nós estamos começando por apenas 1 Mbps”, compara Anderson André, diretor da área de “service providers” da Cisco Systems, uma das grandes fornecedores de equipamentos e soluções de telecomunicações do mundo.

Outra reclamação, esta mais polêmica, é quanto ao peso do setor público no PNBL. Ao todo, o plano prevê investimentos de R$ 12,8 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de soluções tecnológicas e em desonerações fiscais para os prestadores de serviço de banda larga. Só a estatal Telebras, que atuará como gestora da iniciativa, deverá investir R$ 5,7 bilhões – sendo que, deste total, R$ 3,2 bilhões virão diretamente do Tesouro Nacional. “Estamos resgatando uma empresa estatal em dívida. Certamente, esse investimento poderia ser melhor aplicado a favor da população”, aponta André.

O BNDES também terá participação intensiva: sozinha, a instituição terá R$ 6,5 bilhões à disposição para financiar a aquisição de equipamentos de telecomunicações – com tecnologia nacional – e mais R$ 1 bilhão para dar giro a micro, pequenos e médios prestadores de serviços de telecomunicações e lan houses. Na prática, as grandes operadoras privadas de telecomunicações terão participação apenas indireta no plano. A ideia é que elas atuem de forma “complementar”, ajudando a difundir o serviço em regiões subatendidas, tais como o Norte e o Nordeste.

O presidente da Telebras, Rogério Santanna dos Santos, explica que o objetivo do plano é, justamente, forçar uma redução nos preços praticados pelas operadoras privadas. Hoje, diz ele, apenas cinco empresas – Oi, NET, Embratel, GVT, Telefonica e CTBC – controlam quase 95% do mercado brasileiro de banda larga. “A nossa banda larga é cara e lenta e se concentra nas regiões de grande concentração econômica e populacional, como o Sudeste e o Sul. O papel da Telebrás é atuar no mercado para forçar uma melhora nesse custo-benefício e universalizar o serviço para as demais regiões”, diz ele a AMANHÃ. Santos acredita que, com os novos parâmetros impostos pela Telebrás, será possível reduzir o preço da banda larga a um terço da média atual – que é de R$ 49 por mês para conexões de 256 Kbps.

Pelo menos em um ponto críticos e criticados concordam: mal ou bem, é hora de investir na universalização da banda larga. Hoje, menos de 6% da população brasileira desfruta de conexão rápida à internet. “O lado bom do PNBL é que finalmente o governo decidiu investir na difusão da banda larga. Esse tipo de serviço deveria ser considerado um fator básico de infraestrutura”, entende André, da Cisco Systems.
Fonte: Amanhã

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