20100728

Orkut só segue soberano no Brasil – mas até quando?

Por Alexandre Matias

Agora somos só nós. O Orkut era a principal rede social de Brasil e Índia. Agora em julho, foi ultrapassado por lá. A maior rede social indiana é o Facebook. Com o Orkut, agora só o Brasil.

O crescimento do sistema de Mark Zuckerberg impressiona. Ultrapassou seu então arquirrival MySpace em abril de 2008. Encarou uma fila de meses na qual dobrou de tamanho a cada trimestre. Faz uma semana que passou a marca dos 500 milhões de usuários. Se fosse um país, seria o terceiro do mundo atrás de China e Índia. Tem uma população maior do que a dos EUA, Indonésia e Brasil. O Twitter tem 105 milhões e o LinkedIn, 70 milhões. A diferença não é pequena.

O Orkut cresceu 35% na Índia em 2009. O Facebook, 177%. Em maio, havia 19,7 milhões de indianos no Orkut contra 18 milhões no Facebook. Aí o jogo virou. Com a virada veio investimento. A empresa de Palo Alto, Califórnia, expandiu seu escritório em Hyderabad (Índia) e contratou uma equipe de 500 pessoas no mês de junho.

É um escritório grande por dois motivos. Primeiro porque na Índia as línguas são muitas e a intenção é dar suporte em quaisquer idiomas. Mas também porque é a sede do Facebook na Ásia, um continente populoso, diverso e principalmente rico.

Solitários, pois. Agora, a rede social do Google faz sucesso aqui e apenas aqui. No Brasil, em maio, havia 29 milhões de pessoas no Orkut e 8 milhões no Facebook, segundo o site TechCrunch, especializado na cobertura do Vale do Silício. Nessa mesma época, em 2009, o Facebook mal havia passado o primeiro milhão. Há dois anos, estava na casa dos 100 mil. Cresce acelerado.

No Google eles não dizem, mas o Orkut sempre foi uma frustração. Criado com o objetivo de pegar fogo nos EUA, lançado em janeiro de 2004, em menos de um ano foi controlado por brasileiros. Formamos metade de sua população.

Quando o Orkut se disseminou rapidamente pelo Brasil, sites de relacionamento ainda não eram comuns. Serviços como Friendster e Six Degrees eram para iniciados, mas já parecia claro que estourariam um dia.
Ao constatar o rápido crescimento do Orkut por estas bandas, um dos principais pensadores da internet, John Perry Barlow, sugeriu que a socialização talvez fosse mais natural para brasileiros. “Aqui, todo mundo parece se conhecer”, ele dizia. “Você entra num restaurante, passeia na rua, todos estão se cumprimentando a toda hora.”

Barlow estava errado. O comportamento do brasileiro não fazia do País mais propício às redes sociais e o MySpace logo comprovou isto. O Facebook apenas consolida a ideia: somos todos, humanos, bichos sociais. E a internet foi feita justamente para esse tipo de contato.

Essa é uma corrida muito importante para o Google. Onde é que vamos nos informar mais? Será fazendo buscas ou perguntando para nossas redes de contatos? Se o segundo caminho sair vencedor, o Google perde. Sua rede social só vale (por enquanto) no Brasil. Se houver um equilíbrio, o Google terá de dividir sua hegemonia na internet com outras redes – no caso, principalmente com o Facebook.

Em termos de imagem, talvez seja bom. Mark Zuckerberg é a ovelha negra do Vale do Silício. Não esconde sua ambição, aparentemente passou a perna nos sócios iniciais, não parece lá muito preocupado com a informação que pertence a seus usuários. Quer fazer dinheiro, como todos no Vale. A diferença é que o capitalismo por ali tem de vir acompanhado de um sonho, de um ideal. Uma tentativa de melhorar o mundo, nem que seja no discurso. É o que a Apple tem, assim como o Google ou mesmo o Twitter. Zuckerberg não parece se esforçar muito. No contraste, o Google ganha.

Seria uma vitória de Pirro. Hoje, o sistema de busca domina a rede e ninguém quer perder isto. É onde entra o Google Me, sua nova tentativa de entrar nas mídias sociais. Foram muitos os esforços: Orkut, Wave, Buzz, perfis de usuários. Com maior ou menor ambição, o Google luta para reunir as pessoas em seu sistema. Que suas conversas sejam por lá. Ainda não aconteceu. (A não ser que o Brasil conte e, sozinho, neste jogo ele não conta.)

Os rumores são vários, mas em algum momento entre o fim deste ano e o início do ano que vem Google Me virá para brigar com o Facebook. Lá fora, será uma briga difícil. Convencer meio bilhão de pessoas a mudar de comunidade não é trivial.

No Brasil, o caso é diferente. O Facebook está crescendo num ritmo maior do que o Orkut. Se o Google Me entra com algum tipo de sistema de importação com o Orkut, pode estourar. A questão é se o Google quer. O Orkut é o paraíso do spam. É um site considerado difícil de entender por quem nunca entrou nele. Um site fechado e sem jogos, um dos grandes atrativos do Facebook.

Mas alto lá. Há duas semanas, o Google pôs US$ 100 milhões na Zynga, dona do Farmville, principal fornecedora de games do Facebook. A briga começou.

Fonte: Link | Estadão

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