20100721

Dinheiro não educa

Oitava maior economia do mundo, o Brasil investe, todos os anos, cerca de 4,2% do seu PIB na educação básica – o equivalente a US$ 70 bilhões. Já os Estados Unidos, grande dínamo da economia global, aplica 5,7% do PIB em educação, o que representa nababescos US$ 850 bilhões por ano. Para elevar a qualidade do ensino brasileiro, porém, não basta elevar o volume de investimentos, tampouco equipará-lo ao dos norte-americanos. Segundo Roberto Saco, presidente do conselho da American Society for Quality (ASQ), a busca por uma educação de qualidade não depende somente de dinheiro, e sim da forma como ele é gasto.

“A educação está em crise, mas o dinheiro, apesar de ser um fator importante, sozinho não responde a esse questionamento. Precisamos pensar em novas formas de educar”, diz Saco. “Os norte-americanos se enganam porque têm as melhores universidades do mundo. E têm mesmo. Mas os ensinos fundamental e médio estão bem abaixo do desejado”, garante.

Nas provas de Ciências do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que avalia a efetividade dos sistemas de educação ao redor do mundo, a média dos norte-americanos em ciências é de 489. Já nos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de 500. A média dos estudantes brasileiros fica bem abaixo – é de 390 pontos. Mas é errado pensar que a discrepância se deve apenas ao nível de investimentos que cada país dedica ao setor.

Para se chegar a uma educação de qualidade, diz Saco, é necessário preparar os alunos para o século XXI. Esse preparo envolve vários aspectos, não só técnicos como comportamentais. “Não basta ir para a escola para aprender as disciplinas básicas. Isso é importante, mas os alunos terão que sair da escola preparados para enfrentar o mundo”, destaca o presidente do conselho da ASQ, maior organização do mundo na área da qualidade, que se dedica a atividades de treinamento e certificação.

Entre essas características, Saco destaca a chamada “consciência global”. A globalização é uma das grandes impulsionadoras do desenvolvimento. Logo, diz ele, os alunos precisam sair da escola preparados para conviver e interagir com diferentes culturas. As qualidades interpessoais também envolvem outros fatores intangíveis, mas bastante exigidos pelo mercado: flexibilidade e adaptabilidade, iniciativa, autoconhecimento, liderança, pensamento crítico, inovação e ética. “Sim, ética. Lidamos com coisas que não entendemos totalmente, então parte dessa educação precisa ser moral. No futuro, esses estudantes vão lidar com várias questões que ainda não compreendemos completamente”, aponta. E dá um exemplo: “Como definir um ser humano quando estamos lidando com situações delicadas, como células-tronco ou aborto?”.

Ainda devido à globalização, os estudantes também precisam conhecer temas como informação, mídia e tecnologia. “Eles devem estar preparados, por exemplo, para uma videoconferência com pessoas de outros países. Precisam aprender a falar com a câmera, a projetar a voz, a controlar os movimentos, a usar corretamente os recursos da mídia”, projeta Saco. E lamenta: “O que eles aprendem na escola, hoje, é insuficiente. Acabamos tendo de assumir esse ônus, de reensinar os alunos ou ensinar o que eles não aprenderam na escola”.

Saco foi um dos palestrantes do segundo dia do 11º Congresso Internacional de Gestão, organizado pelo Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP). O evento ocorreu na Fiergs e teve seu grande momento na noite de ontem, com a cerimônia de entrega dos troféus do 15º Prêmio Qualidade RS. O Congresso se encerra hoje, com visitas técnicas a empresas que se destacam na adoção dos conceitos de qualidade no Rio Grande do Sul, tais como Gerdau, Refap, Braskem, Fruki e a Fazenda Quinta da Estância Grande, da cidade de Viamão. Mais informações: www.portalqualidade.com/pgqp
Fonte: Amanhã

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