20100719

Contrate gente inteligente

O colunista de AMANHÃ Eloi Zanetti aponta "a turma de Steve Jobs" como exemplo de competitividade baseada na inteligência das pessoas: "Um inteligente atrai o outro"
Quando era diretor de comunicação do Bamerindus, vivia dizendo aos meus auxiliares: “É preciso mostrar que existe vida inteligente aqui na Rua Mauá, 33” – em alusão, é claro, ao endereço da agência. Era a minha maneira de estimular a equipe a pensar por conta própria e a não me trazer problemas que eles próprios deveriam resolver. Acredito que a fórmula deu certo. Os trabalhos realizados por aquela equipe repercutem até hoje e vejo muito dos meus antigos colaboradores em altos cargos empresariais. Mudei para O Boticário e carreguei o mesmo procedimento:“Precisamos provar que existe vida inteligente...”.

Esses dias, conversando com um empresário e sua diretora de RH, o assunto versou sobre recrutamento e seleção. Eles haviam chegado à seguinte conclusão: “Daqui para frente, só iremos contratar gente inteligente, do boy aos cargos de diretoria”. O presidente da empresa arrematou: “Não adianta o candidato chegar com muitos cursos, mestrado, pós-graduação e formação acadêmica no exterior. Se ele não for inteligente, não entra”. Lembrei que na mesma empresa, um ano antes, num exercício em workshop, percebi um funcionário se destacando dos demais pela sagacidade na proposição e resolução de problemas. Perguntei a esse mesmo empresário, quem era aquele? Ele me disse: “Um operário da linha de produção”. Rebati: “Fique de olho nele, esse cara é bom”.

Meses mais tarde, fiquei sabendo que esse funcionário havia criado coragem e solicitado uma conversa com o presidente. Trazia uma série de ideias para aumentar a eficiência do seu trabalho e setor e dizia não aguentar mais ficar ouvindo baboseira de projetos que não terminavam nunca, de retrabalhos e de sobreposição de tarefas. O presidente pacientemente ouviu as ideias. Gostou do que ouviu e mandou o funcionário colocá-las em execução – o que melhorou substancialmente o fluxograma da empresa, trazendo economia de tempo e dinheiro. Hoje, o operário ocupa um cargo melhor e desempenha bem o seu papel, apesar da sua carência de formação. Mas, como homem inteligente, já se matriculou em uma faculdade. A empresa está ajudando. Ele percebeu que a inteligência ou o trabalho, isolados, não são nada; mas que, somados, podem tudo.

O que muitas vezes acontece não é a falta de inteligência, mas a preguiça de pensar. O colaborador pode ser inteligente e criativo fora da empresa. Mas fica no débito na hora em que precisa trocar essa capacidade por um salário. Muitas vezes, a culpa é da própria empresa que só faz travar o processo criativo e o livre pensar dos seus funcionários. Qualquer ambiente em que só os diretores e gerentes podem pensar está condenado a ter poucas ou péssimas ideias.

Gente inteligente gosta de trabalhar com gente inteligente. É estimulante e desafiante fazer parte de uma equipe que sabe pensar. A turma pode ser altamente competitiva, mas vibra quando as boas ideias aparecem. É assim que se formam as grandes equipes criativas, aquelas que mudam o mundo. Um inteligente atrai o outro, que atrai o outro e em breve o ambiente está brilhando e carregado de boas energias. Quer melhor exemplo do que a turma do Steve Jobs? Faça como a Apple e como esse meu cliente: pense diferente – só contrate gente inteligente.

E já que estamos em tempos de futebol, o que um time precisa é de jogadores pensadores e não de carregadores de bola. Aproveite a Copa e observe os craques jogando: eles param por milésimos de segundo, pensam e só depois é que disparam seus passes ou chutam em direção ao gol. Craque é craque porque sabe pensar.
Fonte: Amanhã

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