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Desde a utilização por Barack Obama, internet vira vedete de qualquer ação eleitoral

A eleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2008, significou uma revolução no planejamento de uma campanha política. O uso da rede mundial de computadores não era, claro, uma novidade, mas o modo como o candidato valeu-se dos recursos da internet transformou-se em parâmetro para especialistas em marketing político. Os votos de milhões de brasileiros no pleito deste ano começaram a ser disputados na web já seguindo os novos padrões. As páginas eletrônicas estáticas, usadas apenas como propaganda, continuam ativas. No entanto, a procura por interatividade com os eleitores nas redes sociais e em trocas dinâmicas de mensagens é a grande aposta para a vitória nas urnas em 2010.

De acordo com dados divulgados pelo IBOPE Nielsen Online, em 2009, o Brasil tinha 66,3 milhões de usuários de internet com mais de 16 anos. Ou seja, todos eleitores em potencial. Respaldados por uma legislação que incentiva o uso de meios digitais, os políticos se aventuram em novas empreitadas. A lei permite ações em sites próprios, blogs e páginas de relacionamento, como Facebook, Orkut, MySpace e o microblog Twitter. Portanto, muito antes de 6 de julho, quando propagandas eleitorais passam a ser permitidas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os aspirantes a uma vaga e os que pretendem permanecer no Executivo já tentam conquistar, online, o maior número de votos — embora tenham que manter as verdadeiras intenções veladas. A única restrição, mesmo depois que a campanha começar oficialmente, refere-se às publicidades pagas.

O especialista em campanhas eleitorais na internet Moriael Paiva ressalta a força da rede mundial de computadores. Responsável por campanhas bem-sucedidas na internet, como o projeto virtual que desenvolveu nas últimas eleições para a prefeitura de São Paulo, o publicitário ressalta, porém, que a web ainda não tem o mesmo peso da televisão ou do rádio por causa das limitações no acesso ao recurso. Mesmo assim, Paiva afirma que candidatos a deputado ou senador, por exemplo, devem recorrer ao uso da ferramenta porque os eleitores têm procurado informações online.

Embora seja um campo vasto a ser explorado, a internet requer alguns cuidados e, ainda segundo ele, os políticos precisam de orientação, especialmente no uso das redes sociais, onde os questionamentos dos internautas costumam ser mais intensos. “No Brasil, a internet ainda não é capaz de decidir uma eleição presidencial porque é um pleito que envolve uma parcela muito grande da população que não tem acesso ao recurso. Quando o político, porém, é candidato a deputado e seu público-alvo está nas classes A, B e C, a rede mundial de computadores pode fazer a diferença”, acredita Moriael Paiva.

“A web requer transparência, autenticidade. Não adianta o cara criar um perfil no Twitter e pedir para o assessor atualizar, porque os usuários descobrem e o trabalho perde credibilidade. Essa é exatamente a grande diferença da internet em relação aos outros meios de comunicação: a possibilidade de interação direta e eficiente entre candidato e internauta”, ensina.

Anarquia

A grande angústia dos políticos quanto ao uso da internet é a falta de controle sobre o que é publicado sobre eles. Por isso, alguns erram o tom em resposta aos eleitores e a campanha online acaba sendo um tiro no pé. Essa é a opinião de Leonardo Barreto, professor de ciências pol&ia cute;ticas da Universidade de Brasília. De acordo com ele, a rede mundial de computadores é um espaço anárquico e o uso político da web significa uma nova era na democracia. “Não basta o candidato ter um perfil em cada rede social se não souber usá-las. É necessário manter o equilíbrio na troca de ideias com os eleitores e não simplesmente querer enfiar a informação goela abaixo, como é na televisão ou no rádio. Na minha opinião, os políticos brasileiros ainda não estão totalmente preparados para utilizar a internet”, diz.

Com o intenso fluxo de informações na web, candidatos e eleitores tendem a perder o foco sobre o que é realmente importante na discussão dos direitos e dos deveres de cada um. Barreto ressalta quão necessária é a filtragem das notícias para auxiliar na decisão na hora do voto. O estudante de direito Marcos Alves, 22 anos, faz questão de acompanhar o máximo de candidatos possível. Para ele, essa é um maneira eficiente de escolher seus favoritos e influenciar as outras pessoas. Com perfis no Orkut e no Twitter criados especificamente para ter contato com políticos e eleitores, o jovem declara que é testemunha da inabilidade de internautas e candidatos na troca de ideias.

“Eu sei que a internet ainda não tem um peso tão grande no Brasil, mas acho que a participação na rede dos interessados por política é baixa e ruim. Basta qualquer palavra mal colocada para que o debate se transforme em um pandemônio de acusações recheadas de palavras de baixo calão. O político, que deveria ser um mediador durante essas discussões, claramente não está familiarizado com o universo virtual”, comenta Alves. “Espero que essas eleições ensinem alguma coisa sobre o uso da política na internet para nós, brasileiros, e que as lições aprendidas possam ser utilizadas em votações futuras. Só temos a ganhar com esse espaço democrático, onde todos podem falar de igual para igual, que é a rede mundial de computadores”, completa.

Números significativos

As informações divulgadas na pesquisa do IBOPE Nielsen Online chamaram a atenção dos especialistas não só pela quantidade de pessoas com acesso à internet (em casa e no trabalho) no Brasil, mas pelo tempo que o internauta passa navegando. Em 2009, os brasileiros ficaram online, em média, 44 horas, ultrapassando países como Estados unidos, Austrália e França.

Banco virtual

Outro aspecto da campanha presidencial de Barack Obama que teve influência direta nas estratégias para as eleições brasileiras de 2010 foi a doação pela internet. Pela rede, o então candidato à Casa Branca arrecadou US$ 500 milhões. No Brasil, a legislação permite doações em dinheiro pela rede mundial de computadores, desde que sejam feitas por mecanismos disponíveis na página do próprio candidato. Essa ferramenta deve encaminhar a quantia para a conta bancária do político e os internautas têm de informar o número do CPF. Doações por cartão de crédito só podem ser realizadas por pessoas físicas e o uso de cartões corporativos está proibido.

Matéria publicada pelo site Correio Braziliense Online, em 25 de fevereiro de 2010, com citação à pesquisa do IBOPE Nielsen Online

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