20100111

A anti-mídia social e a invasão no ‘Big Brother’

No momento em que o décimo Big Brother Brasil estrear, terça-feira à noite, as principais redes sociais da internet brasileira sofrerão uma transformação profunda.

No jogo da TV Globo, estarão representados Twitter, Orkut, YouTube e Fotolog. (Aproveitem enquanto há tempo: Facebook é território livre de BBBs e afins.)

Será um encontro curioso: redes sociais e TV aberta são bichos com naturezas completamente distintas.

A TV aberta é o cerne da mídia de massa e, nela, nenhum programa atinge os picos de audiência do BBB. É o momento do ano no qual a TV Globo deposita todas suas fichas publicitárias.
Não é à toa.

A audiência de um programa popular assim se conta às dezenas de milhões. Mais do que isso, ele engole as conversas. O BBB tem seu jeito de monopolizar capas de jornal e revista, está presente nos diálogos de vários canais de televisão, incluindo concorrentes. Está na primeira página de inúmeros portais – principalmente os maiores –, nos rádios.

Nenhum programa da televisão brasileira investe tanto em promover a si próprio.

Televisão, meio das massas, é por definição um veículo no qual o monólogo impera. Ele fala, os milhões ouvem e se calam. A TV precisa dominar o assunto. Não quer imprevistos: deseja o monopólio das atenções. É sua natureza.

Mídias sociais vão no sentido contrário. Um fala, todos podem responder. Num Twitter ou Fotolog, ninguém jamais é tão famoso que não possa ouvir um desconhecido e respondê-lo. Nunca se está distante, nos lemos uns aos outros o tempo todo.

As mídias sociais não são avessas a celebridades do mundo aqui fora. Mas tampouco são fáceis para elas. Não basta contratar um assessor que jogue uns torpedos. É preciso um senso de humor capaz de fazer graça de si mesmo, é preciso ser pessoal e interagir é fundamental. Na internet, a gente percebe quem não está de verdade ali no terceiro comentário.

É um espaço que William Bonner dominou e no qual Xuxa se perdeu. Ela manteve a distância, não aguentou o contato próximo.

Na entrevista a Gustavo Miller, nesta edição do Link, Boninho logo deixa claro: os membros da casa poderão usar o Twitter mas não receberão nada. Claro que não. E não é só porque são regras do jogo. A televisão fala, não ouve.
A TV é a anti-mídia social.

Mas as mídias sociais não escaparão ao seu toque. É uma bomba arrasa-quarteirão. A moça Twittess estará todos os dias na TV, nas revistas, namorará algum colega de casa, flertará com celebridades do B, posará nua em algum mês futuro, seguirá sua sina de Big Sister sem descumprir um único passo do roteiro conhecido.

E enquanto seguem a novela de sua vida, milhões de brasileiros saberão simultaneamente da existência do Twitter, criarão suas contas e em conjunto invadirão o sistema. Tantos entrando assim, sem conhecer-lhe os meandros, ao mesmo tempo, terminarão por transformar o serviço.

O BBB 10 ampliará em um par de meses uma transformação que, mais lenta, terminaria por acontecer. Ao final, o Twitter será outro. Vai virar chat? Transformará o diálogo? Tornará inúteis os trending topics brasileiros?

Nos quadrinhos de Asterix, Roma ocupa quase todos os espaços com a exceção solitária da aldeia dos irredutíveis gauleses. É como o BBB 10 e as mídias sociais. O cotidiano dos gauleses é naturalmente perturbado pelas constantes tentativas romanas de se intrometer em sua vida.

Mas também Roma, apesar de seu tamanho, muda pelo contato com os gauleses.

As mídias sociais mudarão. E a TV, será que muda a partir deste contato?

por Pedro Doria | Estadão

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