20091125

Cuidar ou controlar?

"Substitua 'controlar' por 'cuidar'. Essa atitude fará uma grande diferença no seu dia a dia", recomenda o colunista de AMANHÃ Eloi Zanetti


Por: Eloi Zanetti / Revista Amanhã

A reclamação é geral. De um lado, ouve-se: "Meu chefe é muito autoritário e controlador, não me deixa trabalhar." Do outro: "É preciso rígido controle desta turma, senão fazem corpo mole e nada sai a contento." Controle é bom, mas o seu excesso trava a criatividade e a espontaneidade das pessoas. E hoje, mais do que nunca, as empresas precisam de ambiente criativo e inovador.

O controlador, tanto no ambiente pessoal - com a mulher, marido ou filhos - quanto no ambiente empresarial, precisa saber que, quando nos armamos de muitas defesas, criamos exatamente as condições para acontecer aquilo que mais tememos ou procuramos evitar. Isto é, o excesso de autoridade trabalha contra a autoridade pretendida. O controle sub-reptício foge ao controle.

Se você precisa controlar muitas coisas, troque de verbo: substitua "controlar" por "cuidar". Essa atitude fará uma grande diferença no seu dia a dia, em relação ao nível de estresse e aos resultados dos esforços. Quando "cuidamos de algo", trabalhamos com mais suavidade e carinho. E "a coisa a ser controlada" sente a força sutil das nossas ações. Controlar, sem controlar, é a regra do jogo.

É por isso que cuidamos do jardim e não o controlamos. Cuidamos dos animais e não temos controle pleno sobre eles. Na vida pessoal, é melhor cuidar da saúde, do tempo e do dinheiro do que pretender controlá-los a ferro e fogo. O cuidado, quando feito com atenção e zelo, só traz alegria e satisfação, ao passo que o controle é sempre tenso e difícil.

O próprio ato de cuidar traz consigo as atitudes de zelo, cautela, precaução e atenção. A responsabilidade é mais nossa do que do outro. Ao cuidar, somos mais senhores da situação do que quando almejamos o controle de tudo. A vida precisa de mais cuidados e menos controles. Ninguém gosta de ser controlado, mas todo mundo deseja ser cuidado.

Controlar é uma atividade de mando e de subordinação decorrente da força. "Ou você faz, ou..." - diz o controlador.

Cuidar exige que se pense a respeito do que se vai falar, exige presença real junto aos colaboradores e a perícia da persuasão. Isso implica lógica, afetividade e autoridade. Líderes que cuidam em vez de controlar emanam o que chamamos de "autoridade afetuosa", o que os torna imbatíveis em seus cargos de liderança. Por isso, é melhor persuadir por meio do convencimento e da emoção do que obrigar alguém a fazer alguma coisa tentando controlar os seus passos.

Se aqueles que exercem as atividades públicas ligadas à educação, à saúde e ao trânsito, em vez de buscarem o controle absoluto se limitassem a cuidar dos cidadãos e da sociedade, todos viveriam mais felizes, obedeceriam às regras e não criariam tantos subterfúgios para escapar aos controles. Mas, como o poder público faz o controle para poder multar e cobrar impostos e não para resolver os problemas, permanecemos "cada um por si" e a desobediência se instala. É por isso que existe "lei que pega" e "lei que não pega".

Permitir que as pessoas tomem iniciativas, exponham suas ideias, deem sugestões, é o verdadeiro exercício da liderança. Pessoas seguras da sua posição profissional não precisam exercer o controle absoluto das tarefas, mas podem permitir que outros tomem as rédeas para deixá-los sentir a responsabilidade das decisões empresariais.

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