20100407

Debandada lastimável

Está se alastrando entre os políticos, principalmente os mais experientes, competentes e probos, uma intensa desilusão com o exercício da vida pública, especialmente em figuras cuja projeção e importância nos fazem meditar sobre os riscos que corre o Brasil em decorrência dessa lamentável tendência.

O sentimento comum a todos eles é o da impotência de, no exercício de seus mandatos legislativos, produzir ações efetivas em favor de seus eleitores bem como a existência de crescente desconforto de conviverem involuntariamente inertes com um verdadeiro surto de corrupção que grassa na maioria das vezes impune.

Constam de uma extensa lista de parlamentares nomes como os de Pedro Simon (RS), Roberto Magalhães (PE), Ibsen Pinheiro (RS), Nelson Proença (RS), todos homens de vasta experiência pública e conduta adequada demonstrada em cargos exercidos no Executivo e no Legislativo.

Nós mesmos capixabas temos uma experiência idêntica ao perdermos a oportunidade de sermos representados no Senado por um político dos mais brilhantes da nossa história. Embora desconheça as razões que levaram o governador Paulo Hartung a abdicar da cadeira cativa que o Espírito Santo lhe reservava, arrisco-me a supor que ele padece, como muitos brasileiros, políticos ou não, da mesma ansiedade e sensação de inutilidade de alguns poderes que não conseguem atender aos variados reclamos da sociedade.

Acrescente-se que, além do desmesurado custo financeiro e dos inevitáveis compromissos das campanhas (que para os honestos não tem qualquer retorno), políticos eventualmente se defrontam com a banalização e o falso conceito de que todos eles são desonestos.

Na medida em que essas pessoas de relevo e experiência abandonam a política, elas, evidentemente, estão cedendo lugar não apenas a indivíduos menos experientes e, eventualmente, sabe-se lá, alguns com propósitos menos sadios do que os que saem. Muitos dos substitutos poderão estar pelejando para obter um crachá ou uma chave oficial que lhes abra portas estratégicas onde campeiam os grandes e milionários lobbies.

Deputados e senadores de experiência política que já foram prefeitos e governadores certamente poderão ser substituídos por pessoas inexperientes. Por essas razões, só temos a lamentar a perda de tantos políticos competentes e rogar para que eles revejam as suas decisões para que não deixem órfãos aqueles eleitores que confiaram neles. O Brasil espera por isso, ou seja, por uma verdadeira faxina no comportamento político.

Por isso mesmo, mais do que nunca, precisamos deles. Para Marcos Verlaine, assessor parlamentar do Diap, "a desilusão sempre existiu, mas hoje o movimento está maior e as críticas, mais virulentas. E isso pode resultar em uma diminuição da qualidade política, o que também tem relação com o nível político da população".

Já o cientista político David Fleischer entende que "a renovação deve permanecer no mesmo nível, mas com alguns fatores negativos: sai gente boa e entra muita gente inexperiente. A expectativa de renovação do Congresso é de cerca de 50%", prevê.

É chegada a hora, portanto, de a população exercer a sua vontade através de seu único instrumento - o voto -, e escolher mandatários que tenham conduta compatível com a vida pública e, principalmente, se conscientize da necessidade da realização urgente de reformas profundas que resultem em um comportamento sadio que corrija o alto grau de impunidade hoje existente no país, do qual, prioritariamente, resulta a imagem negativa existente hoje em relação à política. Está mais do que evidente que a sociedade brasileira precisa urgentemente estancar esta verdadeira debandada lastimável, sem o que estaremos beirando o caminho do retrocesso.

Carlos Lindenberg Filho é empresário.
 
A Gazeta | Carlos Lindenberg Filho

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